Por razões que não vêm ao caso (e ainda que viessem nunca as poderia divulgar), chegou-me às mãos, por motivos profissionais, um original (em triplicado) com 333 páginas, dactiloscritas, com o título Gramática Secreta da Língua Mirandesa e o subtítulo Uma Breve Introdução. Não atribuo especial importância ao facto de vir num envelope castanho. Mais significativo parece-me a circunstância de 222 pp serem de papel IO de 90g (o corpo do texto), 99pp de papel Kraft (os apêndices), 9pp de Finepaper de alta gramagem que não consegui identificar (a bibliografia) e as restantes 3pp (o prefácio) num magnífico papel avergoado, onde pontusais e vergaturas se alinhavam em excelentes perpendiculares de matriz esotérica. Habituado a tratar com autores, não estranhei que as pp do prefácio viessem em branco (mais exactamente em creme), estranhei apenas a assinatura (a sépia), que identifiquei como a do último Grão-Mestre (interino) da extinta Ordem Templária Secreta da Serra de Montejunto. Dada a proximidade da Serra de Montejunto com a Serra de Sintra e a equidistância destes dois acidentes orográficos com o chafariz da mãe d`água, que dista exactamente 99m do nº 75 da Rua da Conceição da Glória (contornando a tília), rapidamente me apercebi de uma evidente ligação que não poderia apenas ser atribuída ao acaso.
Tinha sido o escolhido para editar a obra.
De súbito, tudo se tornou evidente. A distância entre o nº 68 da Rua da Misericórdia e o pelourinho de Miranda do Douro, é (rigorosamente) 99 vezes a distância entre o último degrau da Fundação Almeida Garrett e o primeiro degrau do nº 75 da Rua da Conceição da Glória. Era o primeiro aviso. O manuscrito só podia ter origem no Grão Priorado dos Pauliteiros (Pouliteiros no original), associação secreta fundada em 1882 e cujo primeiro Grão-Mestre (J. L. Vasconcellos) era um velho inimigo de JB Silva Leitão (o inspirador da Fundação Almeida Garrett).
A circunstância, apresentada por alguns historiadores mal-intencionados, de JLV e JBSL não terem sido contemporâneos, pelo que dificilmente poderiam ter sido inimigos, nada prova, revelando apenas o estado a que chegou a historiografia hodierna.
E eis que por editar os contos finalistas do prémio da Fundação Almeida Garrett me vejo envolvido numa guerra entre associações secretas. Em minha defesa, apenas tenho como atenuante o facto de ter sido obrigado a editar os contos, por uma terceira associação secreta (com ligações ao suplemento P2 do jornal Público) que reúne, às vezes, ali para o lado do Campo Grande.
Sinto-me ameaçado por duas associações secretas e fortemente vigiado pela terceira. Temo que algo possa acontecer.
Espero conseguir comparecer, eventualmente sob disfarce, na reunião de amanhã.
V.